segunda-feira, maio 28, 2007

Biografia não autorizada de Roberto Carlos e a influência de Elvis na música brasileira-2


A mudança aconteceu em 1956, quando Elvis Presley estreou na gravadora RCA com o single Heartbreak hotel. Branco, bonito, hétero, jovem e, além de tudo, cantando muito bem, Elvis Presley se tornou o primeiro grande fenómeno de popularidade da história do rock. Uma jovem brasileira que assistiu a um show do cantor nos Estados Unidos disse à revista O Cruzeiro; "A gente fica fascinada, e, quando o homem acaba de cantar, necessita-se ou de um banho de chuveiro ou de um psicanalista".

Logo Elvis Presley fez também os seus primeiros filmes - Ama-me com ternura, A mulher que eu amo, O prisioneiro do rock"n"roll -, mantendo a dobradinha do rock com o cinema. Surpreso e encantado com o novo ídolo, Roberto Carlos ia frequentemente ao cinema Santa Alice, no Lins de Vasconcelos, para ver e ouvir Elvis Presley. "Eu sentia uma alegria, uma vontade de dançar e principalmente de cantar. As guitarras coloridas também me impressionavam muito", lembra Roberto Carlos, que aos poucos ia também descobrindo o novo ritmo e o novo som. O garoto que cresceu cantando boleros e sambas-canções finalmente parecia se identificar com uma música do seu tempo e da sua idade.

No Colégio Ultra, os alunos de datilografia ficavam numa grande sala com mais de trinta máquinas de escrever, enquanto um professor circulava dando orientações básicas a cada um. E lá estava Roberto Carlos treinando nas teclas - ou catando milho, como se diz. Outro que também fazia aquele curso era o jovem Otávio Terceiro, que proporcionou ao cantor a sua primeira real oportunidade de cantar na televisão e o seu primeiro cachê no Rio de Janeiro.

Foi no intervalo de uma daquelas aulas que ele viu um dos alunos tocando uma música de Elvis Presley ao violão. Lá pelas tantas, quando Otávio Terceiro disse que trabalhava na televisão, Roberto Carlos arregalou os olhos e exclamou: "O quê?! Você trabalha na televisão?! Pois eu sou cantor". "Ah! É mesmo? Que bacana. Então aparece lá na TV um dia",

E não demorou muito para Roberto Carlos aparecer por lá, com seu violão de capa de lona preta nas costas, à procura de Otávio Terceiro.

Ele o recebeu para conversar, e no momento em que tomavam um café, numa outra sala mais afastada, Chianca de Garcia escrevia os quadros para o próximo Teletur, programa de variedades, espécie de precursor do Fantástico, que ia ao ar toda segunda-feira à noite, na TV Tupi. Otávio aproveitou a oportunidade e defendeu a escalação de Roberto Carlos para aquele programa, que não costumava apresentar calouros, e sim cantores já consagrados. Chianca concordou desde que Otávio fizesse um pequeno teste com o rapaz. Roberto Carlos foi então conduzido para uma sala no fundo do escritório e ali cantou ao violão Tutti frutti, sucesso do repertório de Elvis Presley.
Roberto Carlos cantou Tutti frutti sentado em uma lambreta, num cenário que tinha como tema a juventude. "Roberto estava felicíssimo e muito à vontade no vídeo.

Arlênio Lívio lhe falou então de um grupo de amigos que frequentava o Bar Divino, na rua do Matoso, ao lado do cinema Madrid. Disse que era uma turma da pesada, que também gostava de música, de cinema, de carros. "Se você quiser eu posso apresentá-lo ao pessoal", ofereceu-se Arlênio Lívio.
Naquele momento ele precisava mesmo de uma turma, trocar experiências com outros garotos, compartilhar dessa descoberta do rock and roll.

E no dia seguinte para lá foi ele com Arlênio Lívio, que o apresentou a alguns de seus amigos, entre os quais Edson Trindade, o Edinho, José Roberto, o China, e a um gordo chamado Sebastião, que mais tarde ficaria famoso com o nome de Tim Maia
Aos poucos, Roberto Carlos foi conhecendo outros garotos que frequentavam o Bar Divino.
Logo após Roberto estava numa banda , um quarteto com Tim Maia.
"The Sputniks" se apresentavam com no máximo dois violões, um tocado pelo Tim, mais rítmico, pulsante, outro pelo Roberto mais harmónico. The Sputniks cantavam Little darling com tanta perfeição que alguns até pensavam que eles estavam fazendo mímica -prática muito comum na época.
Carlos Imperial mergulhou no universo proletário do rock"n"roll, iniciando-se na carreira artística como dançarino e apresentador de programas de televisão. O seu Clube do Rock ia ao ar às terças-feiras, às 12 e 45 da tarde, na TV Tupi. No início era apenas um quadro de quinze minutos dentro do programa Jacy Campos -que cedeu o espaço para aquela nova onda musical que estava surgindo. "E agora com vocês o tão esperado Clube do Rock: one, two, three, four, five, six, seven...". O programa começava ao som de Rock around the clock e imagens de bailarinos dançando o ritmo da moda
Ao final do programa, os Sputniks foram fazer um lanche num bar próximo da TV Tupi, menos Roberto Carlos, que ficou no corredor esperando Carlos Imperial deixar o estúdio. Quando ele saiu, Roberto pegou firme no seu braço e disse: "Carlos Imperial, eu também sou de Cachoeiro de Itapemirim e imito Elvis Presley". Um pouco surpreso, Imperial exclamou: "Ah! Você é de Cachoeiro? E imita o Elvis? Então canta aí para eu ouvir". Roberto Carlos pegou seu violão e mandou Tutti frutti. E ali, naquele momento, pela primeira vez Carlos Imperial prestou atenção em Roberto Carlos. Imperial pediu mais uma música e seu conterrâneo cantou Jailhouse rock. "Ok, você está escalado para cantar um número de Elvis no próximo programa

Na terça-feira seguinte, ao meio-dia, lá estava Roberto Carlos estreando sozinho no Clube do Rock, apresentado por um eufórico Carlos Imperial. "Este é o meu, o seu, o nosso Clube do Rock, porque eu, você, nós gostamos de Robeeerto Caaarlos, o Elviiiiis Presley brasileiro...". E Roberto Carlos entrou de violão na mão, sacudindo e cantando Jailhouse rock. "Eu sofria muito a influência dos trejeitos de Elvis quando cantava, fazia até aquele jogo de pernas", afirma Roberto Carlos, que também tentava reproduzir uma batida com certo efeito no violão, um som metálico, de guitarra mesmo -que aprendeu com seu ex-companheiro de Sputniks, Tim Maia. (continua)