sábado, junho 02, 2007

Biografia não autorizada de Roberto Carlos e a influência de Elvis na música brasileira - 3


Se Roberto Carlos cantava sozinho imitando Elvis Presley, por que ele, Tim Maia, não poderia cantar também, imitando o seu ídolo Little Richard? Com esse propósito, Tim procurou Carlos Imperial e pediu uma oportunidade para também mostrar seus dotes de solista. Explicou-lhe

que o conjunto The Sputniks tinha acabado e que a partir de agora ele iria fazer o mesmo que Roberto Carlos, tentar a carreira solo. Num estúdio da TV Tupi, de violão em punho, ele desfilou seu repertório de Little Richard:

Tutti frutti, Long tall Sally, Rip it up e outras que faziam a cabeça do jovem Tim Maia. "Eu sempre adorei o Little Richard pela simplicidade, pela garra, a maluquice e o jeito dele cantar", justifica. Incrédulo diante do que ouvia, Carlos Imperial não teve dúvida e imediatamente também escalou Tim Maia. A partir daí, além de Roberto Carlos, o "Elvis Presley brasileiro", o público do Clube do Rock teria também Tim Maia, o "Litlle Richard brasileiro".
Nesses shows, além de Roberto Carlos, o "Elvis Presley brasileiro", e de Tim Maia, o "Little Richard brasileiro", Carlos Imperial lançou uma nova atração: Wilson Simonal, apresentado por ele como o "Harry Belafonte brasileiro". E logo, logo, Carlos Imperial também teria nas mãos mais um jovem suburbano de talento: Erasmo Esteves, que ficaria mais conhecido pelo nome artístico de Erasmo Carlos.

Ao contrário de Elvis Presley, que não fazia shows fora do território americano (sua única apresentação no exterior foi no Canadá), Bill Haley costumava sair em turnês pela Europa e América Latina. E em abril de

1958 veio se apresentar no Brasil, com espetáculos marcados para São Paulo e Rio de Janeiro. Carlos Imperial foi contratado para organizar o pré-show do astro americano no Maracanãzinho. Grande parte da sua turma de cantores e dançarinos do Clube do Rock teria uma chance de se apresentar. Entre eles estava o "Elvis Presley brasileiro"
, Roberto Carlos se preparou com muita antecedência para esse show. Ele cantaria apenas uma música - e não podia errar. Roberto Carlos decidiu cantar um número novo do repertório de Elvis Presley. Não mais Tuttifrutti ou Jailhouse rock, que ele costumava apresentar na televisão, mas uma música nova cantada por Elvis Presley: Hound dog.
O problema é que ele não tinha a letra daquela música para ensaiar corretamente o número.

Foi quando Arlênio Lívio - seu ex-compa-nheiro de Sputniks - disse que conhecia a pessoa certa para ele procurar: Erasmo Esteves, um cara ali da Tijuca que colecionava tudo sobre Elvis Presley: fotos, figurinhas, pósteres e todas as letras das músicas do rei do rock. Ok, era isso mesmo que Roberto Carlos precisava. E numa tarde de abril de 1958, ele foi com Arlênio Lívio, e mais um amigo comum de ambos, Edson Trindade, bater à porta da casa do tal Erasmo Esteves (que ainda não era Carlos).

"Roberto, este é o Erasmo, o cara que sabe tudo de Elvis." Foi com essas palavras que Arlênio Lívio colocou em sintonia a dupla Roberto e Erasmo. "Eu já conheço você da televisão", afirmou Erasmo, deixando Roberto feliz ao ser reconhecido como artista . E de fato, além de se esbarrarem ali pela Tijuca, Erasmo já tinha visto Roberto Carlos cantar no

Clube do Rock, quando Carlos Imperial o anunciava como "o Elvis Presley brasileiro".

Erasmo logo abriu um caderno e pegou a letra de Hound dog, mostrando a Roberto Carlos que era realmente colecionador de tudo relacionado ao rei do rock. E tinha também uma outra coisa que imediatamente chamou a atenção de Roberto Carlos: a sua maneira de andar, o jeito de corpo de Erasmo era igual ao de Elvis Presley. "Eu via todos os filmes de Elvis e prestava atenção nos mínimos detalhes", explica Erasmo. Roberto também via aqueles filmes e por isso soube identificar os movimentos à la Elvis que Erasmo fazia. "E quando a gente comentava, mais ele fazia parecido", afirma Roberto Carlos. Erasmo logo abriu um caderno e pegou a letra de Hound dog, mostrando a Roberto Carlos que era realmente colecionador de tudo relacionado ao rei do rock. E tinha também uma outra coisa que imediatamente chamou a atenção de Roberto Carlos: a sua maneira de andar, o jeito de corpo de Erasmo era igual ao de Elvis Presley. "Eu via todos os filmes de Elvis e prestava atenção nos mínimos detalhes", explica Erasmo. Roberto também via aqueles filmes e por isso soube identificar os movimentos à la Elvis que Erasmo fazia. "E quando a gente comentava, mais ele fazia parecido", afirma Roberto Carlos.

De fato, até aquele dia em que Roberto Carlos lhe foi apresentado, Erasmo ainda não sabia que rumo dar na sua vida. Era apenas um adolescente sem qualquer relação com a carreira artística. Perto dele, Roberto Carlos até poderia se considerar um veterano da música. Afinal, Roberto cantava em rádio desde criança, aparecia na televisão e agora ia cantar no pré-show de Bill Haley como o Elvis Presley brasileiro. Já Erasmo era apenas um ouvinte de rock"n"roll.

O show de Bill Haley estava marcado para as nove horas da noite no Maracanãzinho. E Roberto Carlos chegou tinindo, com o violão afinado e Hound dog na ponta da língua. Seria uma noite inesquecível, sua estreia diante de um numeroso público. Entretanto, quando ele se preparava para entrar no ginásio, foi informado de que o Juizado de Menores do Rio de Janeiro não permitiria a entrada em cena de nenhum jovem menor de 21 anos de idade. Na época, muitos pais faziam pressão para as autoridades proibirem mesmo a entrada de seus filhos em espetáculos de rock"n"roll. E Roberto Carlos, com exatos dezessete anos, não pôde entrar para cantar Hound dog no pré-show de Bill Haley

Já Arlênio Lívio resolveu insistir na carreira artística e, em maio de 1958, formou um novo quarteto vocal - para o qual convidou três outros amigos tijucanos: Edson Trindade, José Roberto, o China, e Erasmo Esteves.

No final dos anos 50, o rock"n"roll pareceu entrar em franca decadência, com alguns de seus principais astros morrendo, se afastando ou tendo a carreira seriamente abalada. O marco dessa fase foi março de 1958, quando, numa decisão surpreendente, Elvis Presley foi servir ao exército, deixando a carreira artística de lado por dois anos. Sem o seu rei, o rock ficou à deriva.
Com Elvis Presley no exército, Little Richard na igreja, Chuck Berry na prisão e Carlos Imperial no exterior, tudo parecia mais difícil para a turma de roqueiros da Tijuca. Sem o Clube do Rock, Roberto Carlos ficava sem espaço para se apresentar na televisão. No rádio ele também continuava sem muita chance, pois ainda prevalecia a preferência por cantores de vozeirão. Para onde ir então, Roberto Carlos? Na infância imitando Bob Nelson e cantando o repertório de Nelson Gonçalves, mais tarde, em Niterói, a influência de Tito Madi e Dolores Duran. Agora sua fase de "Elvis Presley brasileiro" parecia também ter chegado ao fim. (continua)