domingo, março 11, 2007

Geller-entrevista com o cabelereiro e guru de Elvis


LARRY GELLER - por Piers Beagley
Larry Geller foi um bom amigo de Elvis que passou anos ao seu lado e esteve presente até ao final. Larry tem algumas histórias fascinantes e ilustrativas para contar e Piers Beagley teve a sorte de passar duas horas falando com ele na sua casa, em Los Angeles.

É uma maravilha conhecê-lo, Larry, e tenho tantas perguntas que nem sei por onde começar. Hoje em dia você gosta de ser descrito como “O Mentor Espiritual de Elvis”, ao passo que antes era muitas vezes descrito por seu Conselheiro Espiritual.Isso é algo que as editoras fazem, nunca me descrevi nesses termos. Eu era cabeleireiro pessoal de Elvis, seu bom amigo, confidente e éramos como irmãos espirituais quando estávamos juntos. E com isto quero dizer que logo na primeira noite em que nos conhecemos, isso mudou as vidas de ambos para sempre.
Quando é que conheceu Elvis?A primeira vez que o vi foi quando era ainda um adolescente, num concerto no Auditório Pan Pacific em Los Angeles. No entanto, 8 anos depois eu estava a cortar o cabelo de Johnny Rivers quando o meu telefone tocou e era uma pessoa que trabalhava para Elvis, que se chamava Alan Fortas. Alan disse, “Elvis adoraria que viesse aqui na casa dele para cortar o cabelo. Gostaria de vir?” Eu disse, “Ótimo.” Na época eu estava trabalhando para vários artistas de Hollywood, como Peter Sellers, Sam Cooke, Steve McQueen e outros. Mas quando soube que ia cortar o cabelo de Elvis, fiquei um pouco nervoso!
Mas como é que Elvis conseguiu o seu número de telefone? Nessa época, Sal Orfice não era o cabeleireiro dele?Tem razão. Era Sal que estava tratando do cabelo de Elvis na época, mas ele não gostava de ter de viajar tanto e de ser tão subserviente de Elvis e foi a sua esposa, Marilyn, que sugeriu que eu o substituísse. Nessa época eu estava bastante entusiamado com o meu trabalho. Tinha apenas 24 anos e não era nada de especial para mim se tivéssemos de ir até à casa do Frank Sinatra, por exemplo! Mas só de pensar que ia conhecer Elvis, isso era um pouco “demais” para mim. Ele era O Homem, era O Rei, era uma lenda!
Fui de carro até Bel Air, e até à casa em Perugia Way e podia-se logo saber qual era, pois havia toneladas de pessoas à porta! Enquanto eu passava pelos portões, as garotas gritavam, “Diz ao Elvis que estou aqui e que eu o amo” e eu só pensava, “Uau, isto é mesmo importante!”
Entrei em casa e Elvis veio ao meu encontro dizendo, “Olá, sou Elvis Presley,” e eu estendi-lhe a mão e disse, “Olá, eu sou Larry Geller.” Elvis tinha cerca de 1,84m e eu tenho 1,87m e tive uma sensação de déjà-vu de há 8 anos atrás, quando eu era o adolescente a olhar para cima. Apertei-lhe a mão e ele disse, “Vamos até ao banheiro, onde poderá mexer no meu cabelo e poderemos conversar um pouco”.
Entramos no seu banheiro e eu estava à espera de ver aquela “artilharia” toda de Hollywood, cadeiras que se vêem nos salões e tudo o mais, mas não havia nada! Elvis disse, “É aqui mesmo!” e pôs a cabeça no lavatório! Comecei a colocar xampu no cabelo e quando comecei a enxaguar o cabelo, ele levantou e começou a balançar a cabeça. Voou água e gotas para todo o lado, para cima de mim, para cima dele. Ele olhou para mim com aquele sorriso à Elvis e disse, “Ei, homem! Que se lixe! Pelo menos já está lavado!” Quando ele disse aquilo pensei que homem simples Elvis era. Soube logo naquele momento que era sincero, não era falso.
E então como é que Elvis descobriu tudo sobre os seus interesses? Foi ele que lhe perguntou?Bem, levei cerca de 45 minutos tratando do cabelo dele e durante todo esse tempo Elvis não disse uma palavra, mas os seus olhos seguiam cada movimento que eu fazia. Eu trabalhava com pessoas como Warren Beatty e Paul Newman e os homens mais famosos do cinema, mas posso dizer-lhe que nenhum deles se parecia com Elvis Presley. Elvis eclipsava-os a todos! Ele tinha o rosto, a voz, a carreira, os fãs, a fama, o dinheiro e até tinha o cabelo! Era incrível trabalhar o cabelo dele.
Quando acabei de pentear, perguntei: “Então, o que achou, Elvis?” Elvis olhou e disse, “Sim, sim, está bom, mas queria fazer uma pergunta, Larry. O que é que realmente faz na vida? Como é que és realmente?” Pensei para comigo, “Uau, este cara não disse uma palavra e agora vem com esta pergunta tão pessoal?”
Então contei-lhe a verdade acerca dos meus interesses e isto passou-se muito antes da explosão dos Beatles e dos interesses neste tipo de assuntos ficar popular. Então disse-lhe que trabalhava como cabeleireiro como forma de vida, mas o que era mais importante para mim era a minha busca pela verdade, pelo objetivo da vida e por Deus.
Disse a ele: “Sei que é Elvis Presley, a maior estrela do mundo e que estou dizendo talvez te soe bastante pateta.” Mas Elvis replicou, “Não, espera aí. Larry, nem faz idéia de como preciso de ouvir o que tem para dizer. Por favor, continue a falar.”
Então contei-lhe sobre a minha meditação, o yoga, os meus livros espirituais, que era vegetariano e tudo o mais. Logo a seguir ele quis saber sobre a alma, Tínhamos alma?, De onde vínhamos?, Sobreviveríamos a esta vida?... Todas estas questões surgiram nesta conversa.
E durante este tempo todo ainda estavam no banheiro de Elvis?Bem, antes que pudesse perceber, já tinha passado mais de uma hora e Elvis estava a conversar comigo, quando olhei para o espelho e ele tinha lágrimas a escorrerem pelo rosto. Estava a falar sobre a sua mãe e como eram pobres e como ela tinha desperdiçado a sua vida a trabalhar como uma escrava. Contou-me como não tinham água corrente em casa, mas um poço nos fundos do quintal. Falou do seu irmão gêmeo Jesse, que tinha nascido morto e como tinha sido educado a ir à igreja. Falamos de coisas bastante importantes e durou cerca de 3 horas.NIsso, alguém bate à porta e isto é bastante engraçado e nunca esquecerei. Um dos rapazes disse, “Ei, chefe, tudo bem, aí dentro?” Elvis replica, “Claro, homem, claro que estou bem. Que diabo pensa que pode me acontecer no meu próprio banheiro?” É claro que agora todos sabemos que foi aí que tudo acabou. Bastante irônico, não?
Na época também não obteve uma oferta para trabalhar em tempo integral para Peter Sellers?Sim. Duas semanas antes, Peter Sellers tinha-me pedido para ir para Inglaterra com ele e trabalhar no seu novo filme. Era uma mudança de país e muito embora eu gostasse de Peter, era ir para muito longe. Por isso disse que teria de pensar. Mas quando Elvis me disse, “Volta para o teu salão. Diga-lhes que esta se despedindo e vem trabalhar para mim em tempo integral. O que acha disso?” Nem precisei de esperar um segundo para responder, disse logo, “Sim.” Era uma situação que me parecia certa e sabia que tinha razão.
Então depois de ter dito que sim a Elvis, começou logo a trabalhar com ele no filme Roustabout?Elvis disse-me para me apresentar nos Estúdios da Paramount no dia seguinte às 8 horas da manhã. Então lá fui eu para a Paramount e arrumei o cabelo dele. Foi tão incrível porque no final do dia saímos todos até onde estavam os carros estacionados e Elvis estava sentado no Rolls Royce que tinha acabado de comprar. Disse-me, “Ei, Larry, acabei de comprar este Rolls. Quer levá-lo emprestado esta noite? Vá até á minha casa hoje à noite e leva a sua mulher para dar uma volta!” Assim sem mais nem menos! Mas, sabe, senti-me meio envergonhado e disse, “Não, deixa estar, Elvis.” Nem queria acreditar na sua generosidade, mas Elvis era assim!
Ele adorava dar presentes, não era?Se você tivesse a oportunidade de conhecer Elvis esta noite, ele lhe daria um relógio, uma pulseira, ou qualquer outra coisa. Ele era assim, uma pessoa extraordinária, sempre pronto para dar. Adorava mesmo fazer as pessoas felizes e partilhar o que tinha.
Já leu o livro de Alanna Nash sobre o Coronel? Alguma vez desconfiou de algumas das coisas que ela expõe?É muito verdadeiro. Eu conheci o Coronel e o tipo de caráter que ele tinha e como era bombástico. Era um autêntico vigarista que se servia do poder para conseguir o que queria. Tinha água gelada a correr nas veias. É um livro excelente, mas muito do que vem lá escrito não é nenhuma revelação para mim. Dei à autora, Alanna Nash, todas as informações que tinha. Ela é uma autêntica jornalista.
Nos últimos dois anos da sua vida, lembro-me de ouvir Elvis dizer, “Quero ir até à Europa e fazer turnês, ver o mundo. Tenho fãs na Europa, na Alemanha, no Japão. Os Beatles vêm cá, os Stones também. Porque não eu?”
Elvis chegou mesmo a me dizer que achava que alguma coisa de muito estranha tinha sobre o motivo do Coronel não se interessar por isso, mas não sabia bem o que poderia ser. Elvis disse que sempre que perguntava o que se passava, o Coronel dizia que estava trabalhando sobre o assunto. Mas agora sabemos o que era! (Nota: no livro de Alanna Nash, The Colonel, depois de intensas investigações, o Coronel Parker foi ligado a um assassinato ocorrido na sua terra natal, na Holanda. Tudo isto justifica várias das medidas que ele tomou – ou deixou de tomar – durante a carreira de Elvis).
Você esteve presente em algumas datas extraordinariamente importantes. Por exemplo, em meados dos anos 60, quando Elvis estava mesmo precisando de ter algo mais além dos seus filmes tão ruíns. E você trouxe-lhe algum interesse espiritual.Sabe que todas as noites, Elvis e eu passávamos cerca de duas horas juntos sozinhos conversando e isto continuou durante anos. Até mesmo Priscilla, no seu livro, escreve sobre como nos afastavamos. Ela tinha ciúmes, pois nem ela, ou os rapazes, sabiam do que falávamos.
Como está o seu relacionamento com Priscilla?Tenho cruzado com ela umas poucas vezes e é tudo muito “superficial”, nos abraçamos, dizemos “Olá, como está?”, mas não somos amigos, sabe! Descobri recentemente que ela está fazendo alguns trabalhos maravilhosos de caridade, o que é ótimo, por isso, Deus a abençoe.
Outro evento importante foi em 27 de Agosto de 1965, quando os Beatles vieram visitar Elvis. O que pode contar sobre aquela noite?O Coronel tinha marcado um encontro entre Elvis e os Beatles. Antes deles chegarem, Elvis e eu estivemos no banheiro e eu arrumei o seu cabelo. Elvis esteve sempre muito calado e a tamborilar com os dedos na beirada do lavatório. Olhou para mim e disse, “Caramba, sei o que aqueles caras estão passando. Quer dizer, já passei por isso. Estão tocando para grandes audiências e eu estou fazendo estes filmes horríveis para adolescentes – Sinto tanta vergonha.”
Naquela noite Elvis tinha um aspecto tão fenomenal. Ele costumava usar umas camisas tipo bolero e tinha-as em todas as cores, exceto castanho. Detestava castanho! Naquela noite estava usando uma camisa azul. Fomos todos para a sala e subitamente ouvimos gritar, como um trovão, como se uma bomba tivesse explodido. A porta da frente abriu-se e os Beatles entram! Os Beatles vieram com Brian Epstein, o seu empresário. Foram ter com Elvis e foram apresentados e Elvis sentou-se numa cadeira. Todos os Beatles se sentaram no chão mesmo à frente de Elvis, num semi-círculo. Ficaram ali sentados, olhando para Elvis. Instalou-se um silêncio de morte na sala, até Elvis dizer, “Bem, que diabo, se vocês não vão falar comigo, vou para o meu quarto.” Isso fez a gente rir e quebrou-se o gelo. Lembro-me de os ver a olhar para a televisão de Elvis e dizer, “Uau, vejam, uma televisão a cores!” porque nunca tinham visto uma antes. Depois disso, Ringo, Billy Smith, Marty e Richard foram todos jogar bilhar na sala ao lado.
E o que dizer sobre a famosa jam session?Paul McCartney, o John e eu, e possivelmente Jerry Schilling, estávamos sentados conversando quando Paul perguntou a Elvis se podia experimentar uma das suas guitarras. Elvis disse, “Claro, homem, escolha à vontade.” Então Paul pegou numa e começou a tocar, seguido por John e logo seguido por Elvis também. Os três começaram a tocar e a cantar durante cerca de 20 minutos e eu pensei, “Isto é incrível! Agora estou no centro do universo. Os Beatles e Elvis!” O mais engraçado é que o Coronel Parker era tão rígido com o controle que não permitiu que se tirasse uma única fotografia de Elvis com os Beatles juntos! Até que ponto uma pessoa pode ser tão ridícula?!
A certa altura comecei a interrogar-me onde estaria George. Fui lá fora e estava escuro como breu, mas mal saí, soube que ele estava lá, pois chegou-me logo o cheiro de erva! Lá estava George, sentado ao pé de uma árvore a fumar um charro. Sentei-me e conversei com ele durante um bom tempo. Tivemos uma conversa ótima porque eu sabia que George estava envolvido com questões hindus e mais tarde viria também a ser grande amigo de Daya Mata. Estabelecemos logo uma ligação espiritual. Senti-me tão triste quando soube que morreu recentemente.
Alguma vez viu aquelas fotos muito fraquinhas e amadoras que foram tiradas naquela noite?Sim, sei quais são. Elvis apareceu e disse, “Ei, rapazes! Quero mostrar-lhes uma coisa.” Primeiro fomos lá fora e fomos ver o seu novo Rolls Royce. Era uma loucura com as pessoas lá fora gritando ao mesmo tempo “Eu te amo, Elvis” e “Te amamos, Beatles.” Lembro que algumas adolescentes tinham subido em algumas árvores altas e estavam com máquinas fotográficas. Acho que é daí a origem dessas duas fotos tiradas daquela noite. Em seguida Elvis levou-os para dentro para verem o novo presente que o Coronel Parker lhe tinha dado, que era uma nova sauna no quarto de Elvis. Paul meteu a cabeça para olhar para o espelho e disse a Elvis, “Quem é que está ali?” Elvis não sabia e quando olhamos, vimos uma adolescente que se estava tentando se esconder debaixo de um banquinho de madeira. Ela lá tinha conseguido passar pelos seguranças. Quando nos viu, gritou e saltou para cima de Elvis e tivemos de a tirar para fora à força!
Depois dos Beatles terem ido embora e de Elvis se despedir, eu e ele voltamos para o seu quarto e ele disse, “Gostei mesmo daqueles rapazes, são bons rapazes. Mas o que se passa com os dentes deles?!” Claro que devido a falta de comida do pós guerra na Inglaterra, havia falta de boa comida e os dentes deles não eram bons. Seja como for, Elvis disse, “Não consigo perceber. Têm dinheiro, porque não mandam arrumar os dentes?” E mesmo quando estava se preparando para ir dormir, Elvis disse, “Lembre-se de uma coisa, Larry, eles são quatro e eu só sou um!”
Voltou a ver os Beatles depois disso?Bem, de todos os Beatles era óbvio que Elvis tinha gostado mais de John Lennon. Durante uns poucos dias depois do encontro, John telefonou várias vezes, pois queria que fôssemos a casa deles para festejar. Seja como for, os rapazes foram durante as 3 ou 4 noites seguintes, mas Elvis não quis ir. Os outros se divertiram bastante, mas eu acabei ficando com Elvis, para lhe fazer companhia.